Wednesday, March 29, 2006

dezembro,2004

REDENÇÃO
Não me lembro mais de ti, amor!
E, agora, recordo os teus olhos frios, as tuas palavras mudas, teu toque gélido.
E, agora, somente agora-agora,
teu amor são impressões seresteiras, especialmente ritmadas e desconcertantes;
e assim sinto, imersa, então afogada, e descalça…
Descalça, desnuda; distinta na fusão dos solos arbustivos de verão,
das árvores,dos cantos, inspirando-expirando formoso chão; e assim,
mesmo sem querer, me fazes crêr no perigo do amor!…
Me esqueço, amor, dos teus olhos, do riso do teu coração, das tuas palavras,
da luz do teu olhar na cumplicidade de saber que estás em mim;
e creio em tua bondade, que agora! – cristalizada.
Imagens, figuras que tenho de ti, faço de ti, estáticas tornaram-se, no mel-melaço;
mel-melaço tão estático como tuas auroras;
misturou-se tudo, diversas, esparsas..., teu toque é-foi-está gélido, e a tua presença;
Distraem – como os véus do mar quebram na praia – esvoaçantes, de secos, paz e perdão e distantes suspiros ávidos, entretecidos de sol…
E formou-se tão leve espuma de vidro, e depois de aço;
fazes tanto Trevas das tuas presenças – minto! – das tuas Ausências,
depois de estonteantes figuras desbravadoras, tão doces que desbravadoras;
perco-me, amor, nos teus olhos frios, no toque gélido, na presença aberta de ferida morta…
Se pudesse, teria essas palavras gravadas, mas tudo é de graça,
tudo vem e tudo passa, e os teus ventos brincam de fugir-jogar-se-ao-longe-e-nunca-vir,
como os pássaros incrustados – agora – no nada!
No nada – não! –, aí cresce o tudo, o infinito sem-fim; chega-me, Natureza bruta, diamante bruto, porque te perdi, silenciou-se o teu peito, teu choro afinado e fugaz, a graça das tuas faces-cristal e tudo tornou-se fim…
Par, meu amor, fúlgido de tamanha presença interior – e verde, da cor de águas, desajustadas,
desnorteadas
e fortes de destemor, clareadas de sol do pôr-do-sol,
no dorso das nuvens e peixes, estruturadas na deslembrança, na perdição dos sentidos…
Certeza que tenho é de encontrar-te, reencontrar-te, a cada novo, a cada dia, a cada esperar;
porque se te lembro tão morto, necessito tão vivo;
(vivificando o que tenho de ti, pertencendo a ti e amando o teu brilho, teu olhar e tua luz…
entregar-te a graça que envereda o coração meu…) o perigo do amor…
"EU JÁ me deixei totalmente em teus braços,em teus laços,em teus lábios, costurei minha pele à tua, e agora o sangue: quem há de amputar? quem há de tratar? quem há de furar de novo os meus olhos?..."